Durante uma viagem à Portugal escolhi uma dia para fazer um “bate e volta” até as Caldas da Rainha, que fica localizado muito próximo a vila medieval de Óbidos. Eu queria conhecer mais profundamente o trabalho de Rafael Bordallo Pinheiro. E fiquei fascinada.
Rafael Bordallo Pinheiro (1846/1905) tinha 38 anos quando assumiu o cargo de diretor artístico da Fábrica de Faianças e iniciou sua carreira de ceramista, com o nome já firmado como jornalista e caricaturista, tendo sido responsável pela publicação de vários jornais.
Bordallo era um homem com uma enorme criatividade, um espírito crítico, apurado e um sentido de humor único, características que se associavam com uma enorme capacidade de trabalho e com grande qualidade artística, onde os dias e as noites se sobrepunham até acabar um desenho, uma peça ou uma história.
Seu trabalho teve uma larga e rápida aceitação e deixou um legado incrível. Na fábrica foram criados centenas de modelos de cerâmica de criatividade impar, baseado nas tradições locais, adotando a Fauna e Flora, inspirado pelo Naturalismo, o Renascimento ou a Art Nouveau.
Ele contribuiu não só com a exuberância e criatividade das suas faianças, mas também com enorme nível técnico que foi conquistada principalmente na modelação e nos vidrados.
Um dos maiores marcos de suas peças foi a EXPO1889, a Exposição Internacional de Paris, em que Bordallo foi responsável pela decoração de várias salas do Pavilhão de Portugal, nessa ocasião a Fábrica de Faianças recebeu a Medalha de Ouro na EXPO e Rafael o grau de Cavaleiro da Legião de Honra, ofertado pelos franceses.
Em 1895 criou a “Jarra Beethoven” desafiando a arte e a técnica da cerâmica, produzindo ao longo de três anos uma peça extraordinária que excede 2,60 m de altura, é um símbolo de exuberância e talento do artista. Em 1899 Rafael presenteou a Presidência da República Brasileira com a Jarra Beethoven, e atualmente ela está exposta no Museu das Belas Artes, no Rio de Janeiro.
Seu notável trabalho com cerâmica foi premiado com a medalha de ouro em exposições internacionais (Madrid, Antuérpia, Paris e em St. Louis, Estados Unidos).
Rafael trabalhou 21 anos com cerâmica (1884 a 1905). Deixou uma obra, resultado da sua inquietação social, criatividade e humor que permanece atemporal. Ele foi uma figura positiva no seu tempo e ainda é nos dias de hoje, é uma das pessoas mais influentes da cultura Portuguesa do século XIX. Sua obra representa, uma realidade sempre atual inquietante e um documento vital para o estudo político, social, cultural e ideológica de um período de tempo.
Quando Rafael faleceu, em 1905, seu filho Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro protegeu sua memória, continuando o trabalho de seu pai e guardou viva a tradição da cerâmica.
Após a morte de Manuel Gustavo, em 1920, um grupo de pessoas ilustres de Caldas, em conjunto com os trabalhadores, continuou o trabalho da empresa.
Hoje a Fábrica Faianças pertence ao Grupo Visabeira, que garante uma continuidade produtiva e histórica da marca Bordallo Pinheiro que é herdeira do extraordinário património da Fábrica de Faianças Artísticas, que continuam reproduzindo e reunindo diariamente saberes centenários, aplicados com a mestria dos artesãos.
O vídeo a seguir, pretende ilustrar todas as fases do processo produtivo da Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro. Da modelagem ao cozimento, passando pelo enchimento e pela ornamentação, com a respectiva pintura.
No Brasil existe um projeto chamado “Bordallianos do Brasil” feito com obras sempre associadas à história da sua concepção dos criadores que integram um especial sincronismo de ideias e profunda admiração pela obra de Rafael Bordallo Pinheiro.Estas obras nasceram suportadas por matrizes naturalistas, que trabalham questões conceptuais e formais da contemporaneidade, com uma poética própria. Bordallianos do Brasil tem assim raízes que vêm do passado, numa visão futura de expansão da marca Bordallo Pinheiro.
Confiram as peças da Coleção “Maria Flor” que são atualmente produzidas na fábrica e podem ser adquiridas.
E algumas imagens da exposição que tive oportunidade de ver nas Caldas da Rainha.